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Dia desses, minha filha mais moça, que há cerca de um ano mora em Porto Alegre, postou no Facebook uma singela mensagem dizendo apenas isso: "Saudade, papito!" Aí, quedei-me a pensar que, apesar dos moderníssimos meios de comunicação, a despeito da elástica abrangência das redes sociais, da universalização do uso do telefone celular e de tudo mais que significa diminuição ou eliminação das distâncias terrenas, continuamos dependentes do carinho e do afeto das pessoas que amamos, continuamos carentes de contatos físicos, de olho no olho, de mão na mão, de abraços e de beijos. De abraços e beijos reais, eis que os virtuais se mostram claramente insuficientes para suprir nossas necessidades de acarinhamento.
Felizmente, não perdemos completamente nossa humana condição e, daí, decorrem essas nossas carências afetivas, a permanência em nossas vidas de um sentimento tão "antigo" quanto a saudade e a capacidade de nos emocionarmos com coisas e fatos triviais. E o bom é que ainda conseguimos verbalizar nossas pequenas emoções, que ainda conseguimos nos expressar, sem os filtros da racionalidade exagerada, sobre aquilo que, aqui e ali, nos aperta o coração e nos fustiga a alma. Isso, diferentemente do que possam alguns pensar, não nos faz menores nem piores ou mais frágeis do que ninguém. Ao contrário, penso eu, isso nos engrandece, nos torna melhores e nos faz mais capazes de amar e mais dignos do amor que recebemos.
Só não vá a senhora, amiga leitora de pouco tempo, ou o senhor, que me lê pela primeira vez e que, pelas mesmas razões da primeira, ainda não me conhece bem, pensar que estou passando por psicótico surto de nostalgia. Não, e nada contra a nostalgia, que, às vezes, se faz inevitável e se posta à nossa frente sólida como uma rocha. Não estou querendo (re) viver valores em desuso nem estou apregoando atrelamento a práticas comportamentais passadas. Trata-se apenas de uma agradável constatação, a de que, felizmente, repito, ainda não perdemos completamente nossa humanidade. Enquanto a mantivermos e não nos embrutecermos ao ponto de nos transformar-mos em (quase) máquinas, é possível cultivar a esperança de futuro para os habitantes de nosso pequeno planeta azul.
Mas, não nos esqueçamos de que, às vezes, encantados pelo brilho fugaz de uma estrela-cadente, deixamos de observar aquilo que está à nossa vista e ao alcance de nossas mãos. Não que não nos possamos encantar com a luz inacessível ao nosso toque ou tão afastada do nosso alcance que mal a podemos divisar. Não, não é isso! Trata-se apenas de aprender a mensurar nossos sentimentos e necessidades e de ter a expectativa possível em face dos sonhos que sonharmos. O resto é estrada, é caminho, é aprendizado
Observação: esta crônica foi publicada no jornal A Razão, em maio de 2012, e o publico aqui por força de um "tilt" em meu PC. Explico: não consegui abrir o arquivo onde salvei o texto preparado para esta semana e precisei, à última hora, buscar alguma coisa salva em pendrive. Por entender que esta crônica se mantém atual, a escolhi.